Orçada em US$ 5,4 bilhões (R$ 21 bilhões), a Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do Amarante (CE), entrou em reta final de construção diante da maior crise internacional da siderurgia. Joint venture da Vale com as coreanas Dongkuk e Posco, a empresa vai destinar 100% da sua produção para o mercado externo, hoje em nível recorde de superoferta. “Sobrevive quem for competitivo e quem tiver diferencial”, diz Sérgio Leite, presidente da CSP.
Com experiência de vinte anos na mineradora Vale, Leite assumiu a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) em março do ano passado. Já foi finalizado 93% do projeto, que é o segundo maior do setor privado em andamento hoje no Brasil – o primeiro é o S11D da Vale, no Carajás. No momento, a obra da CSP está no pico, com quase 14 trabalhadores, dos quais 1.200 coreanos.
A demanda pelo aço da CSP será garantida por uma cláusula de “offtake” do acordo de acionistas, que obriga os três sócios a “retirarem” parte da produção da companhia na mesma proporção de sua fatia societária: Vale (50%), Dongkuk (30%) e Posco (20%). Os destinos finais das placas de aço devem ser Coreia, Estados Unidos e parte da Europa.
Segundo Leite, em um prazo entre três e seis meses, a CSP deve alcançar a sua capacidade produtiva máxima, de três milhões de toneladas de placas de aço/ano. Para o executivo, a chave de competitividade para enfrentar o mercado internacional passa por “escala, qualidade, tecnologia e qualificação da mão de obra”. Encadeando a produção de aço desde o minério do ferro, a CSP é a primeira siderúrgica integrada do Nordeste. Toda a sua tecnologia é da Posco, companhia cujo volume de produção supera hoje toda a produção brasileira.
O fornecimento de minério de ferro será feito exclusivamente pela Vale, que detém participação em outros dois negócios de siderurgia: a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), no Rio, e a California Steel Industries (CSI), nos Estados Unidos.
Instalada em uma área de 571 hectares na região metropolitana de Fortaleza, a CSP é a primeira empresa operando em um regime de Zona de Processamento de Exportação (ZPE) e conta com diversos incentivos fiscais previstos em lei. Com faturamento em dólar e custos em real, a empresa se beneficia do atual cenário de câmbio.
A venda em dólar é ainda uma proteção para o financiamento de cerca de US$ 3 bilhões que a empresa contratou em abril com as agências coreanas KExim e KSure, BNDES, além de sete bancos comerciais, com prazo de vencimento em 12 anos. “A alta do dólar preocupa o mundo todo. É dado o problema, é nesse mundo que temos que trabalhar agora. A gente tem de saber pilotar nesse cenário”, diz o executivo. O restante dos recursos para a obra foram aportados pelos acionistas.
A companhia nasce autossuficiente em energia. Já foi construída uma usina termelétrica com 200 megawatts de potência, dos quais cerca de 30 megawatts de produção excedente, que deverá ser comercializada no mercado. Segundo Leite, a empresa está em busca de um parceiro tecnológico ou societário para rentabilizar o seu negócio de energia. “Energia é um fator muito sensível, por isso a orientação de otimizar com um parceiro”, afirma o executivo.
Segundo Leite, o maior desafio da CSP no curto prazo é sincronizar as diversas frentes da operação. “É complexo. Trata-se da primeira usina desse porte na região, com uma tecnologia de ponta e metade dos trabalhadores fazendo pela sua primeira vez uma carreira em siderurgia”, afirma o executivo.
No ano passado, a eclosão de diversas greves de trabalhadores acabaram postergando a inauguração da obra, inicialmente prevista para até o fim deste ano.
Para o longo prazo, a empresa considera o plano de construir uma laminadora de aço com foco em atender o mercado regional. “Isso ainda está no plano das ideias”, afirma Leite. Um dos empecilhos da laminadora é o fato da lei de ZPE só permitir que 20% da produção da CSP, que seria a fornecedora de placas de aço, seja destinada ao mercado interno.
Quando estiver pronta, a CSP deve empregar cerca de 2.800 pessoas, além de mais 1.200 terceirizados. Do total de funcionários, dois terços são de origem local. “Em cinco anos, a gente prevê que 100% dos funcionários seja local”, afirma Leite.
A empresa é empreendimento estruturante no Ceará e deve beneficiar indiretamente 12 mil pessoas na região. Em pleno funcionamento, a CSP irá responder por 42 % do PIB industrial do Estado e 12% do PIB total cearense.
Segundo Leite, estão previstos R$ 400 milhões/ano em contratos com fornecedores locais. Por conta da CSP, o complexo industrial e portuário do Pecém já atraiu empresas como a White Martins, de fabricação de gases industriais, e a americana Phoenix, de tratamento de resíduos industriais.
Além disso, três fábricas de cimento (dos grupos Votorantim, Apodi e Mizu) estão se instalando no complexo por causa da chegada da siderúrgica. Elas produzirão cimento a partir de escória do processo produtivo de aço da companhia.
Fonte: Portal Portos e Navios