Por Yoshio Kawakami
As pessoas são diferentes entre si, por conta de seus ambientes familiares, suas experiências pessoais, seus hábitos familiares, suas relações pessoais, seus hábitos culturais, etc. Imagine reunir estas diferentes pessoas numa única organização para alcançar um determinado objetivo comum.
Nem é preciso que seja uma empresa. Um time de futebol ou uma equipe de basebol também representam a mesma situação. Você reúne um grupo de pessoas que possuem diferentes experiências, crenças, valores e princípios para alcançar um resultado em conjunto.
É certo que não haverá unanimidade sobre como conduzir atividades, tomar decisões, estabelecer tarefas individuais. Aliás, é mais certo que haverá algum tipo de conflito dentro do grupo, que poderá afetar a eficiência do conjunto.
Alguém poderia fantasiar sobre administração como ter um grupo de clones que se comportam da mesma forma e pensam (?) da mesma maneira. Seria como uma área de reflorestamento de eucaliptos clonados. É verdade que a uniformidade produz uma beleza de conjunto, mas sem a biodiversidade, esta floresta teria uma utilidade específica e limitada. Em pouco tempo a beleza da inusitada da uniformidade seria percebida como algo aborrecedor.
Então, a composição da população de uma empresa deve trazer as diferenças individuais do meio, pois ela reflete a sociedade do seu entorno e funciona melhor, produz mais e evolui mantendo a “biodiversidade”. No entanto é necessário haver um equilíbrio e uma harmonia, como na natureza em que diferentes espécies convivem numa inter-dependência que protege, faz crescer e produzir.
Como se faz para produzir este equilíbrio que acomoda as diferenças e esta harmonia que orienta as atitudes e os comportamentos das pessoas numa direção estabelecida pela organização?
Não pense em regras, códigos de conduta, normas e procedimentos, pois estas estabelecem como se deve realizar as tarefas e atividades produtivas da empresa. Não é sobre como as pessoas se comportam e como elas se sentem no ambiente de trabalho.
O que envolve as pessoas num equilíbrio e harmonia que produz um ambiente voltado para o “melhor de si” é o estabelecimento e manutenção da cultura empresarial, corporativa, organizacional ou institucional. É importante perceber que cultura não existe apenas em grandes corporações ou empresas. A maneira como o proprietário de um pequeno bistrô atende seus clientes e também orienta o seu garçon a atender um cliente, é parte da sua cultura empresarial. É assim que esta empresa estabelece um diferencial de longo prazo, atrai e fideliza seus clientes, mantém a sua qualidade.
O papel do líder nas organizações maiores é justamente refletir este “jeito de ser” junto à sua equipe, cultivar estes bons hábitos e projetá-los aos clientes na formação da imagem desejada da sua marca.
Mas há um outro aspecto importante relacionado com a cultura empresarial que nem sempre é tratado de forma aberta.
Se a população de uma empresa reflete o seu entorno, a sua sociedade, então é de se imaginar que os aspectos éticos também serão refletidos dentro da organização, certo. Mas o nível ético do entorno da empresa seria integralmente aceitável como prática dentro da empresa?
Considerando-se a diversidade e a flexibilidade ética existente hoje em dia na sociedade, podemos supor que nem tudo que vem do entorno atende as necessidades de uma organização. Melhor dizendo, as “práticas da rua” necessitam ser melhoradas para alcançar o padrão desejado pelas empresas.
A cultura organizacional serve para harmonizar os hábitos e as atitudes das pessoas para produzir uma empresa melhor.
Quando uma empresa industrial se instala numa região rural, onde não há outras indústrias, certamente encontrará valores e hábitos deste meio, que tanto podem ser uma grande vantagem ou podem não ser adequados para a atividade da empresa.
Quando o entorno da empresa sofre com grandes problemas sociais, é de se prever que as pessoas são influenciadas pelo seu meio e podem trazer valores e hábitos éticos que não se enquadram aos princípios éticos da empresa. E as nuances não são todas percebidas num processo de seleção da empresa.
A exposição a uma cultura clara, com princípios definidos, valores elevados “jeito de ser” visíveis reorientam os funcionários de forma natural. Não se trata de um exercício de maniqueísmo traçando a linha entre o bem e o mal dentro da organização mas criando um ambiente onde as pessoas percebam claramente o que é aceito, o que é incentivado, mas também o que deve ser evitado.
Se este padrão é consistente, visível e principalmente perceptível no comportamento dos líderes, então, ao fazer parte da organização a pessoa participará de um processo que continuamente melhorará a organização e ao mesmo tempo terá uma evolução individual importante.
Parem um pouco e reflitam. As boas organizações e empresas não representam nos dias de hoje um dos ambientes com as melhores práticas éticas? A realidade é que as empresas necessitam atender aos padrões mais elevados de ética, lisura, profissionalismo, educação social, cidadania, etc, para serem cada vez mais competitivas.
Muitas vezes a necessidade provêm da obrigação de atender normas internas rigorosas e procedimentos como um Código de Conduta. Também procuram desenvolver uma imagem superior de cidadania, cuidado com meio ambiente, atenção às questões sociais, educação no trânsito, etc. Um dos objetivos da empresa na administração da sua marca, é tornar-se uma entidade admirada e reconhecida pela sociedade como uma empresa idônea.
Estes aspectos dependem do comportamento dos funcionários dentro e fora da empresa. Os limites de aceitação precisam ser definidos pela empresa para desenvolver uma imagem apropriada, que corresponda aos seus objetivos públicos.
Numa versão simplificada, costumo dizer que cultura empresarial é o que acontece quando o chefe não está presente. Se o comportamento das pessoas muda quando chefe não está, podemos dizer que a cultura não está devidamente implementada.
Antigamente se dizia que “quando o gato saí, os ratos aparecem”. Hoje se isso estiver acontecendo na empresa, devemos entender que é “o gato que é ruim”.
A abordagem pode parecer uma crítica à sociedade, mas trata-se de uma realidade e um líder que não compreende o valor de uma cultura adequada, certamente gerará problemas para a empresa no longo prazo.
Grato,