Nesta semana, o Google anunciou sua primeira turma de residentes: empreendedores que passarão seis meses em um programa da gigante da tecnologia, no espaço Google Campus (confira uma galeria de fotos do local neste link ou no pé desta matéria). O prédio fica em São Paulo e também possui espaços de acesso livre e gratuito.
Após 857 inscrições, 15 startups foram selecionadas: AlugaLogo, Baby&Me, Bliive, Cuponeria, Easycrédito, Idwall, Nama, New Hope Ecotech, ProDeaf, Scicrop, SenseData, Smarttbot, StoryMax, Trakto e Upbeat Games.
As empresas selecionadas, além de terem a estadia gratuita no Campus por meio ano, terão acesso a mentorias constantes, especialistas em diversas áreas e oportunidades de intercâmbios com outros campi do Google pelo mundo. O programa é voltado para negócios em fase inicial, de aceleração de crescimento.
Mas, se você não passou nesta primeira turma, não desanime: haverá uma nova seleção ainda este ano para os que quiserem começar a residência em 2017.
“Encorajamos as startups que não foram selecionadas nessa primeira turma a aplicarem novamente e correrem atrás, porque vimos muitos projetos bons sendo recusados apenas por questão de vagas mesmo”, afirma André Barrence, diretor do Google Campus de São Paulo.
EXAME.com conversou com Barrence para saber o que foi levado em consideração para eleger as 15 startups da primeira turma de residentes – e no que você deve prestar atenção na hora de se inscrever.
Etapas de seleção
As centenas de startups inscritas pelo formulário online do Google Campus passaram por várias etapas de avaliação até restarem apenas as 15 selecionadas.
Na primeira fase de seleção, dois fatores são destacados: primeiro, o desenvolvimento de um produto interessante ou de um modelo de negócio disruptivo, mesmo que ainda esteja em estágio inicial; segundo, a aceitação deste produto, preferencialmente verificável por meio de clientes pagantes.
“A combinação desses dois elementos nos mostra a aderência que o produto ou serviço tem ao mercado em que essa startup atua”, explica Barrense.
“Ter clareza da dor que ela está solucionando é fundamental. As startups muitas vezes acabam solucionando problemas que não são importantes a ponto de as pessoas pagarem para resolvê-lo. Esse é um ponto de partida fundamental: buscamos startups que validaram seu problema, mesmo que a solução não esteja perfeita.”
Após esses primeiros itens (produto e clientes/receitas), foram selecionadas 250 empresas. O próximo critério de seleção foi o time da startup: pela capacidade do campus, o ideal é que as empresas tenham entre dois e dez membros, além de perfis diversos.
“Buscamos diversidade de gênero, de formações acadêmicas, de experiências profissionais. Isso porque diferentes perspectivas serão fundamentais para a resolução de problemas que a startup terá no futuro.”
Com mais esse crivo, 57 startups continuaram na seleção. Um comitê formado tanto por membros do Google quanto externos – todos especialistas em temas ligados à tecnologia, negócios e investimentos – selecionaram 20 startups para a fase de entrevistas. 15 delas se tornaram residentes.
Um último critério de avaliação de Barrence cita é o possível retorno que os empreendedores dariam para a comunidade Google, no Brasil e no resto do mundo.
“Primeiro, eles devem contribuir para nossa missão de pensar o ecossistema brasileiro, fortalecendo a cultura empreendedora do pais”, diz o diretor do Campus São Paulo. “Também buscamos negócios em setores de grande potencial de crescimento e com soluções que possam ser escaladas globalmente, já que um diferencial do Google Campus é ter vários espaços por todo o mundo. Essa possibilidade de internacionalização nos interessa muito.”
Não há nenhum setor específico para qual o Google olhe – apesar de todas as empresas terem ao menos um pouco tecnologia em seus negócios.
“As únicas áreas que tiveram mais de uma startup selecionada foram fintech [tecnologia aplicada à finanças] e varejo, que possuem uma penetração cada vez maior de startups. Ou seja, vemos isso como um reflexo natural do interesse em empreender nestes dois setores”, diz Barrence. “O grupo final acabou sendo bem diverso e isso cria uma experiência rica.”
Contrapartida
Vale lembrar que o Google não faz investimentos nas startups selecionadas e nem possui participação nesses negócios. Então, o que ele ganha com esse programa de residência?
O primeiro ponto é filosófico. “Há uma cultura por parte do Google em doar recursos para o ecossistema de startups, já que o próprio Google um dia também foi um negócio assim”, diz Barrence. “Não temos pretensão de buscar novos investimentos com esse programa, e sim aumentar essa comunidade na qual o Google se insere.”
Porém, em longo prazo, esse incentivo pode reverter-se em um retorno financeiro. Afinal, o aumento da economia de startups e da tecnologia voltada ao ambiente de internet é também um aumento no portfólio de possíveis clientes e parceiros da gigante.
Isso é especialmente verdade no Brasil – um mercado importante para a empresa, com um progressivo amadurecimento do ecossistema de startups. “Basta ver a quantidade de aquisições, investimentos e saídas para avaliar que o país vem tendo um crescimento bem significativo nesse amadurecimento nos últimos cinco ou seis anos”, diz Barrence.
As informações são do site Revista Exame