Com o mercado de trabalho aquecido, muita gente anda trocando de emprego. Há porém uma pergunta que me parece não era feita antes:
Você sabe como sair de uma empresa?
É só pedir as contas e sair andando, certo? Qualquer um pode fazer isso sem um manual de instrução, não é mesmo?
Mas não é assim que as coisas ocorrem na realidade. Pois para sair de um emprego, é preciso haver fortes razões. Pelo menos um fator de atração forte do novo emprego e também, normalmente, um fator de rejeição forte do emprego atual.
Ou seja, a combinação que completa o quadro de mudança é composto por uma necessidade de sair e uma oportunidade de melhorar a sua situação, certo?
Mas com o inédito mercado aquecido da atualidade, nem sempre o quadro se completa e o profissional sente vontade de mudar, embora não tenha um fator de rejeição forte. Isto cria uma confusão na motivação da saída do emprego.
É necessário então “criar” a necessidade de mudança, ou seja, é necessário procurar motivos que justifiquem a saída. Como acontece este processo?
Uma das justificativas comuns é a sua chefia, o tratamento desrespeitoso, a cobrança excessiva, etc. Como se percebe que não é uma motivação verdadeira? O profissional usa este motivo ao mesmo tempo em que reconhece que aprendeu muito e que cresceu muito sob a orientação do chefe de quem reclama.
Outra bastante comum é que não se sente reconhecido ou valorizado pela empresa, focalizando na promoção imediata como o único reconhecimento ou valorização válido.
Também a remuneração faz parte do rol de motivos, principalmente quando diz que tinha uma expectativa de melhor remuneração. Mas a grade salarial da empresa é pública entre os funcionários e cada qual pode saber em que ponto da faixa correspondente à sua função está o seu salário.
Acontece que muitas vezes nenhum destes motivos é verdadeiramente suficiente para a decisão e mesmo em conjunto, dificilmente o seria.
Outra situação que é uma extrema falta de elegância é contar vantagens no último dia, comentando do novo salário, dos benefícios e outras coisas que apenas soam para as demais pessoas como um desdém.
Quem sabe seja útil usar as 3 perguntas de Sócrates: É verdade? É importante? Fará o bem?
E se a mudança é para ir trabalhar com um concorrente direto, certamente a elegância estará completamente comprometida se o afastamento imediato não for voluntário, rápido e o mais discreto possível.
A única coisa que escapa no processo é assumir a sua própria vontade de tomar um risco maior num novo emprego, talvez numa empresa menos sólida, mas com a possibilidade de avançar mais rápido na carreira. Pode ser também a vontade de empreender, aproveitando o momento favorável.
Uma vez assumida a sua própria vontade, não deve haver necessidade de revanchismo contra o seu chefe ou a empresa. A grande vantagem é poder sair da empresa sem perder a relação, o respeito e a amizade das pessoas com que conviveu alguns anos e manter as portas da empresa abertas.
Não digo por achar que o novo projeto será um fracasso, como podem pensar. Mas é muito provável que algum dia a sua antiga relação com a empresa seja uma vantagem profissional para os negócios. Garanto que a satisfação de ser bem recebido na antiga empresa, mesmo depois de 10 anos, será muito gratificante.
Também, poder usar a empresa anterior como referência, tendo a certeza de que será uma referência positiva é um importante patrimônio profissional. Muitas vezes a antiga empresa passa a ser um grande cliente no seu novo negócio. Já considerou essa possibilidade?
A verdade, contada pelos profissionais da área de RH da empresa, é que a grande maioria dos que saem, buscam oportunidades para retornar. A minha política é de sempre aceitar os bons funcionários de volta. Mesmo que tenham saído contra a minha vontade, o retorno é sempre benvindo.
Mas a principal mensagem não é aprimorar-se na “arte de mudar de emprego”, mas sim, questionar-se se a sua motivação foi assumida corretamente e se a saída é mesmo a melhor alternativa para a sua carreira.
Um questionamento importante a se fazer é se a promoção obtida através da sua saída é mesmo melhor do que a mesma promoção na empresa em que você trabalha hoje. Quem sabe você tenha talento e habilidade para ser um executivo numa grande empresa e esteja trocando algum tempo de espera por uma empresa muito aquém do seu potencial?
Continuo a acreditar que o profissional só poderá ser feliz no seu trabalho se tiver a oportunidade de exercer plenamente o seu potencial.
YK,