Muitas organizações atribuem uma valor elevado ao network interno dos seus funcionários e executivos. É quase um dogma, que a evolução na carreira requer possuir um network poderoso. É assim na organização em que você trabalha? Você já parou para pensar no que isso pode significar?
Pessoas que trabalham em empresas consideradas boas no mercado, com marcas conhecidas e boa imagem pública, reclamam de práticas internas que parecem não corresponder à imagem da empresa.
Você já pensou na mensagem que estas pessoas estão tentando elaborar e externar? “Tentando”, indica que a elaboração ainda não foi concluída e as suas percepções ainda não chegaram a uma conclusão definitiva.
O que pode estar acontecendo, que tem frustrado jovens profissionais em algumas empresas? Qual é o aspecto anacrônico da gestão diante de profissionais muito mais informados?
Parece que muita gente fica em dúvida se a empresa em que trabalha segue o seu próprio discurso na prática da sua gestão. As contradições percebidas em muitas decisões tomadas pela empresa, podem indicar uma discrepância entre os valores pregados e a prática aplicada numa organização.
A questão é saber se a sua empresa tem uma cultura mais política do que aparenta. É saber se as decisões são tomadas com base em fatos, dados e análise técnica, como diz a sua própria cartilha, ou se as decisões parecem ser frutos de um processo inacessível para as pessoas.
Um olhar crítico sobre como os líderes agem na busca de soluções para os problemas, pode indicar se na sua empresa a política é mais importante do que aparenta ou do que deveria ser.
Se o desprezo aos “hard facts” e informações concretas é frequente, e o próprio fórum de decisão é muitas vezes completamente informal e se os bastidores parecem ser o fórum preferido dos executivos, você pode estar num ambiente mais político do que imagina.
Se o “Board Room” não tem um papel relevante nas decisões mais importantes e parecem ser apenas um fórum destinado a corroborar decisões tomadas nos bastidores, a governança na sua empresa pode ser mais uma aparência do que um instrumento efetivo.
Outros indicadores como o ar misterioso que cerca as decisões de promoções e contratações na empresa podem ser evidências. As decisões podem ser surpreendentes e podem estar longe de uma unanimidade, mas um processo em que se conhecem os candidatos, o corpo de decisão e as fases que indicam o progresso, seriam a evidência de que a política não prevalece sobre as regras estabelecidas.
Mas talvez o sinal mais visível de uma organização mais política do que o esperado seja a ênfase dada pela empresa e pelos executivos ao famoso “networking”.
Muitas vezes executivos e especialistas supervalorizam o “network interno” sem vincular a prática a um potencial desvio de valores na organização. Sabemos que o relacionamento é um fator importante na sociedade humana e nas organizações, mas quando o tal relacionamento passa a substituir os processos formais de decisão, há um desvio a ser examinado.
Nem sempre o profissional com menos experiência consegue identificar estes desvios e pode ficar muito frustrado por não entender certas decisões das instâncias superiores. O fato é que quando alguém compreende o problema, fica ainda mais indignado com a manipulação.
Em muitas empresas tradicionais, a maioria dos seus funcionários iniciam a carreira muito jovens e são formados dentro da cultura da empresa. A longa convivência e o aprendizado único podem reduzir o senso crítico do profissional para estas questões. Será difícil perceber o grau de politização interna da empresa e dificilmente perceberá a diferença em relação aos valores apregoados.
Por outro lado, para os líderes que estão acostumados e que se beneficiam do ambiente político, nem sempre a situação é percebida como negativa.
Mas um verdadeiro líder, no posto mais elevado da organização tem a obrigação de perceber estes fatos e deve trabalhar diligentemente para reduzir estas distorções!