No primeiro dia de trabalho numa empresa, ouvi um dos conselhos mais importantes da minha vida profissional. O português, Gerente de Compras na ocasião, deu-me as boas vindas e disse que eu havia tomado a decisão certa de juntar-me àquela empresa, pois era uma boa empresa. Mas tinha um importante conselho para um jovem: – Não se meta em politicagens dentro da empresa, pois ela é muito pequena para estas coisas!
Na ocasião, o conselho dado de forma direta e rude, pareceu um tanto fora de contexto e exagerado, pois estava sendo contratado como um engenheiro analista de Marketing, muito distante dos níveis em que imagina haver questões políticas e jogos de grupos.
Tratei de firmar-me no emprego, pois era uma época de crises muito profundas e uma perda de emprego na época poderia ser fatal para o desenvolvimento da carreira para um jovem engenheiro, recém casado. Havia muito o que fazer e pouco tempo para qualquer coisa além da rotina do trabalho.
Mas as politicagens dentro das empresas existem e acontecem em todas as partes, algumas vezes com muita sutileza e outras vezes com visível brutalidade. Aos poucos os jovens profissionais percebem que além da estrutura formal da empresa, há uma outra estrutura de relações de amizades, afinidades e privilégios que muitas vezes contam mais que a hierarquia da empresa.
Mas existe um aspecto ainda pior que eventuais manipulações de cargos e vantagens. É a percepção geral de injustiças e favorecimentos ilícitos, com grandes danos à empresa. A consequência é destruição total da ética, pois ninguém encontra referências ou valores em que possam acreditar.
Nenhum líder que aceite ou faça uso deste tipo de relacionamento conhecido como politicagem consegue ir muito longe. Na realidade, mesmo tentando ser o mais justo e imparcial possível, às vezes a interpretação é desfavorável.
Continuo achando que a politicagem não é um bom caminho para os profissionais que querem ter um crescimento de carreira nas empresas, pois tornam-se dependentes de um esquema que é ilícito e de pessoas que não são confiáveis. É muito mais confiável buscar o desenvolvimento das sua competências e qualidades.
Mas então, onde fica o bom relacionamento com os colegas e líderes da sua empresa? O que caracteriza uma situação de politicagem? É politicagem quando o relacionamento envolve acordo tácitos ou explícitos que resultem em atividades ilícitas para alcançar os objetivos. É quando o alcance dos seus objetivos envolve prejuízos a outras pessoas e os critérios de decisão são subvertidos.
Onde há politicagem, a distribuição e o exercício do poder não reflete a estrutura formal da empresa. A comunicação também não segue pelas vias normais e nem tudo que é necessário é comunicado, fazendo com que a informação torne-se um privilégio, com o canal informal de comunicação passando a ser excessivamente importante.
É possível que você já esteja identificando alguma situação vivida ou algum aspecto atual da sua vida que indica a existência de politicagem. A pergunta mais comum das pessoas é: – O que devo fazer?
O primeiro ponto é que se você está se perguntando, você está bem, pois não está participando da politicagem. Mas também não assuma uma postura pública e ascintosa contra a politicagem e contra as pessoas envolvidas, pois pode ser perigoso promover uma confrontação. Procure entender os interesses envolvidos e as motivações das pessoas que participam da prática.
O segundo ponto é que você pode precisar de “dar um tempo” até que as coisas melhorem com a intervenção de alguém ou de uma reorganização. Estas práticas não resistem muito ao tempo e acabam sendo descobertas e repudiadas. Mas se for uma situação insustentável, mude de emprego. O problema é que é quase impossível descobrir se na nova empresa também há politicagens.
O terceiro ponto é acreditar que é sempre melhor confiar na competência e na habilidade. Mesmo sendo neutro aos jogos, você poderá ser valorizado pela sua capacidade e a sua proteção será a falta de uma boa justificativa para eliminá-lo. Neste caso, faça um “downplay”, finja que não entende o jogo e que o seu único interesse é seguir trabalhando sem ser ameaça para ninguém.
O objetivo das politicagens é sempre a instalação de membros do grupo em posições desejadas e contratação externa de futuros membros do grupo. A arena do jogo é representada pelas posições mais interessantes dentro da organização. A sua defesa é o reconhecimento do seu valor pelos seus superiores imparciais na empresa e pelo mercado, resultado da sua contribuição e performance.
Foi usando este raciocínio que sobrevivi a estas circuntâncias e foi assim que eliminei algumas situações indesejáveis, que em maior ou menor grau existem nas empresas e afetam muito o ambiente de trabalho.
Também é importante resistir à tentação de participar dos esquemas, ou pior ainda, de montar os tais esquemas em seu favor. Como tudo na vida, um dia a conta chega.
Grato, YK.