YOSHIO KAWAKAMI
O tema foi solicitado algumas vezes, mas o assunto parecia óbvio demais até poucas semanas atrás. Ocorre que uma situação chamou muito a atenção para a aparente ingenuidade de alguns jovens profissionais, promissores e competentes, mas digamos espertos demais “à la Gerson”…
Quando nos referimos à ética no trabalho, ela pode significar duas coisas muito diferentes e que parecem que devem ser melhor explicadas. Uma delas é sobre a “entrega” do resultado esperado, dedicação ao trabalho. A outra é sobre a “honestidade” do profissional…
É claro que as pessoas sabem o que é certo e o que é errado! O eventual “deslize” não vem da falha de conceito ou desinformação do profissional, mas sim de um equívoco a respeito dos controles existentes, de uma noção equivocada de risco, da ilusão da impunidade, do tamanho perdoável de uma falha e de uma relação “custo x benefício” mal avaliada.
Quanto à “entrega” do resultado esperado, é necessário apenas entender que a sua permanência na empresa depende de produzir o resultado no trabalho que se espera do profissional. É através de comparação com outros profissionais e com as expectativas definidas que se avalia o desempenho do profissional. Aqueles que entregam mais do que o esperado constituem as surpresas positivas, e passam a ser encarados como sendo os melhores potenciais do seu grupo, possivelmente a serem expostos a um número maior de oportunidades durante a sua carreira.
Mas é no quesito “honestidade” que temos algumas supresas de tempos em tempos, indicando que ainda há uma ingenuidade a ser corrigida. Talvez o correto seja dizer que a cada nova safra de profissionais, novas correções tenham que ser feitas…
Em primeiro lugar, ninguém deve tentar qualquer “golpe” barato! Digamos que por menos de 1 Milhão de dólares (pelo menos!) não vale a pena ser desonesto. Cuidado, não significa que exista um valor a partir do qual o “crime compensa”… Mas é uma referência para que não se “suje por pouco”! Como as oportunidades de golpe que assegurem um retorno de 1 Milhão de dólares são mais raras, automaticamente evitamos as tentações…
Assim sendo, as pequenas vantagens de “fajutar” despesas de viagens e outras “cositas”, definitivamente devem ser colocadas na categoria de “não vale a pena”…
É importante entender que não há segredos no mundo corporativo. Digamos que você tenha sido um pouco “esperto” (perdão por mencionar a famosa Lei de Gerson, que acredito tenha sido a referência mais injusta do Brasil)… Você acreditaria mesmo que nunca ninguém perceberá? Ou melhor ainda, um invejoso colega não utilizaria a tal “denúncia anônima” contra você?
Você se esqueceu de que há mecanismos de auditoria interna, denúncias anônimas, colegas invejosos, comissão de ética, concorrência interna pela próxima promoção, etc, que poderiam em algum momento da sua carreira expor o “pequeno delito”? Lembro-me de um caso em que a pessoa recém promovida não havia terminado o seu curso superior (como havia declarado ao Depto de RH) e fora denunciado anonimamente por algum colega. Resultou na sua demissão por haver mentido…
Vamos lá! Existem os controles possíveis nas comunicações digitais (Internet/E-Mails/Etc), existem os controles de despesas (que se compara com os demais funcionários), existem as câmaras de vigilância onde se registram atitudes estranhas, existe a possibilidade de controle dos telefones, existe a experiência do chefe que já viu muitas coisas antes de “você nascer”, e pode existir até mesmo a experiência dos que já fizeram há muito tempo atrás o que você ainda está tentando fazer…
Mesmo aos jovens da geração “Y”, as regras valem e nunca a competência será um substituto da honestidade, por maior que seja! É importante entender que mesmo aquele contador antigo ou controler discreto, que parecem tão desligados da realidade, são de fato verdadeiros especialistas em identificar irregularidades…
Não é melhor esquecer de uma vez por todas estas mesquinharias? Vamos para o “Big Picture”? Simples… Quanto mais elevado o cargo, mais possibilidades de manipulação e fraude ficam à sua disposição? Então ninguém promove uma pessoa sujeita a suspeitas deste tipo, certo? Quanto custaria isso para a sua carreira profissional e para a sua vida?
Há alguns anos, em conversa com um head hunter de grande experiência em contratações de “C – level” (CEO, COO, CFO, CIO, etc), perguntei o que era mais difícil no seu trabalho, esperando que falasse de competências… A resposta simples foi “honestidade”!
Uma pequena estória pode ilustrar o que é ética (honestidade) numa sociedade…
Imagine que num determinado país, o governo tenha ensinado às crianças de que pegar o que não lhe pertence é “errado” e nunca deve ser feito… Uma criança poderá crescer com um forte conceito de que nunca se deve tocar em algo que seja de outra pessoa, simplesmente porque isso faz parte dos seus valores…
Imagine que num outro país, o governo tenha ensinado às crianças de que pegar o que não lhe pertence é errado e será severamente punido pela polícia… Uma criança poderá crescer com um forte conceito de que o que a polícia não perceber, não será problema…
Quando um profissional “pisa na casca de banana”, está jogando com a segunda possibilidade… Está jogando com a sorte de não ser percebido, não ser denunciado, de passar incólume por todos controles, de enganar todos as pessoas mais experientes e apostar na possibilidade de que a empresa não tenha desenvolvido qualquer novo mecanismo ainda desconhecido por ele…
Estamos na era dos computadores super-rápidos, de registros fáceis de serem resgatados, de cruzamento de todo tipo de informação em segundos, de rastreamento de palavras, de análise de hábitos de consumos, de rastreabilidade de todos gastos dos cartões de créditos, etc… (Essa premissa vale também para a sua Declaração de Imposto de Renda).
Não é possível que você não perceba que não há segredos além do seu mais profundo íntimo, que nunca tenha sido exposto a um computador e nunca tenha sido mencionado a qualquer pessoa na face da terra. Dá para confiar?
E mesmo que o seu documento tenha sido “aprovado” pelo seu chefe imediato ou mediato, eles nunca serão responsáveis pela sua falha ética… No máximo terão que responder pela falha de controle e tomar medidas para evitar repetições… Por mais falha que seja a polícia no combate ao crime, ela nunca será responsabilizada pelos crimes cometidos por outros, certo?
OK… Podemos estar exagerando um pouco e no mundo ainda há muitas coisas que deveriam ser coibidas e punidas, certo? Mas pode acreditar que nas empresas o controle é muito melhor que em “outras esferas”…
Mas porque não tomar de uma vez por todas uma decisão para a sua vida, que só pode trazer boas consequências? Crie bons hábitos, pois nos próximos 20, 30 ou 40 anos pelos quais você seguirá trabalhando, os controles serão ainda mais eficientes e sofisticados, deixando cada vez menos chances de impunidade…
Os executivos não querem ser taxados de negligentes em cuidar do dinheiro do acionista e o dono não gosta que mexam no que é seu…
Até hoje, a checagem dos antecedentes dos profissionais é negligenciada no mercado na hora da contratação, e mesmo aqueles que “pisaram na casca de banana” conseguem novos empregos. Será que isto continuará assim?
Já é tão fácil cruzar as nossas infrações de trânsito, nossos deslizes nos pagamentos de contas, nossa situação com os cartões de créditos, nossos empréstimos para “tapar buracos”, nossa ficha policial, nosso consumo de bebidas nos restaurantes, nosso consumo de remédios e tantas outras coisas que mentir será absolutamente inútil como defesa…
Como é um dos poucos assuntos “preto-no-branco” nestes dias de tanta flexibilidade e relatividade, vale a pena considerar com total seriedade. É tão mais barato pagar as suas próprias contas, que não vale o risco…
Abraços
YK
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Ótimo artigo.
Está de parabéns o nobre Autor.