Você já foi atropelado por uma (re) organização? Fazia um bom tempo que não via uma perplexidade tão grande com um fato que deveria ser racionalmente encarado como uma possibilidade, desde o final do ano de 2008. Sim, uma reorganização massiva na estrutura global de uma empresa multinacional.
Vejamos então porque até mesmo ser demitido é uma coisa previsível para um profissional atento, e se não é possível encarar o fato com calma, pelo menos pode-se “desfrutar” algumas lições de vida profissional.
Como funciona uma grande organização
A base de uma (re) organização global é a necessidade de adequação às mudanças que afetam os negócios de uma empresa. Nos últimos anos, a maior mudança nos negócios de muitas empresas multinacionais tem sido o fato dos mercados emergentes terem crescido de importância.
A origem do faturamento das empresas sofreu uma grande mudança, com o eixo sendo transferido na direção da China. Não é verdade que o faturamento tenha se movido para Índia, Brasil e Rússia significativamente, pelo menos para a maioria das empresas, quando comparado com a China.
Em termos muito simples, isso significa que as empresa precisam de mais gente na China e menos gente na Europa e na América do Norte. OK, no Brasil também precisam (ou “precisariam”) de mais gente, está bem?
Na verdade, nas empresas em que a China não se tornou ao menos um dos mercados mais importantes, os problemas podem ser mais graves. Pode significar que perderam um bonde importante para o seu crescimento.
Certamente a produção das empresas também passaram a ter outro destino, com logística e custos de transportes que não representam uma solução ideal no longo prazo.
Em algumas outras empresas, com o dólar americano e outras moedas tornando-se comparativamente muito baratos, o local ideal para produzir pode ser um novo local, num efeito “back to the future”, que já começa acontecer.
Mesmo trabalhando numa empresa multinacional, você não havia pensado nisso? Provavelmente sim, mas deve ter prevalecido a confortável esperança de que com o tempo tudo voltaria à normalidade, não?
O fato é que profissionais na Europa e na América do Norte, mercados dominantes em muitos setores, já estavam acostumados à estabilidade e ao conforto do desenvolvimento adquirido.
Agora as empresa já sentiram que o retorno ao “antigo normal” pode ser possível, mas muito demorado. E começam a encarar o “novo normal” de maneira mais séria. Ou seja, o que está aí, pode ficar por muito tempo.
Você está mais tranquilo porque está num mercado favorecido nesta crise, certo? Mas não exagere. Se os seus colegas da matriz ficarem sem função, o que podem fazer? Pousar no seu terreno, certo? Já tenho inúmeras ofertas de colegas do exterior, aos quais respondo que fluência em Português e Espanhol (Have you heard about them?) são competências mandatórias, com um leve sabor doce nos lábios. Melhor continuar aperfeiçoando-se e adquirindo um conhecimento local que eles não terão, pelo menos no princípio.
Já observo que andam lendo sobre o Brasil, muitos tem de memória o nome completo da presidente Dilma Roussef e sabem que a presidente da Argentina chama-se Cristina Fernandez (e não Kirchner). Aliás, a capital do Brasil mudou para Brasília, sabiam?
Um fator positivo é que com o crescimento da importância dos mercados emergentes, os profissionais destes mercados estão tendo uma exposição cada vez maior e estão aproveitando a oportunidade. Um dos problemas tradicionais sempre foi “out of sight, out of mind”, não importa o que digam.
Também, nos mercado emergentes, ainda “não esquecemos” a origem mais humilde que nos ensina cooperar e “lutar juntos” contra as adversidades. Nos países mais desenvolvidos, creio que já se acostumaram a serem autossuficientes e observo que trabalhar como um time não é mais tão natural (aliás os programas de desenvolvimento de RH nestes países focalizam demasiadamente a capacitação individual). Hoje vejo que esta é uma importante característica dos profissionais brasileiros.
Os profissionais mais experientes já foram atropelados algumas vezes na sua carreira. Os mais jovens precisam ficar mais atentos a estes movimentos. Não deixem o “Efeito Borboleta” surpreendê-los despreparados. O momento pode ser de interessantes oportunidades profissionais!
YK